
The Chosen – Os escolhidos: uma série sobre pertencimento e fé
The Chosen – Os Escolhidos é um fenômeno de audiência mundial; recentemente foi anunciado que a série entraria para o Guiness Book como a mais traduzida e dublada do mundo. No Brasil, a série é exibida pelas plataformas de streaming Netflix e Prime Video. A série é produzida desde 2017 e atualmente está na 5ª temporada.
Embora retrate o ministério de Jesus Cristo, a série foca principalmente na vida dos discípulos e nas transformações que eles vivenciaram após o chamado de Jesus. Por isso, é importante ressaltar que se trata de um drama histórico, e não de um documentário teológico nem de uma dramatização literal da Bíblia. Dessa maneira, a obra utiliza licença poética para fazer inferências sobre a vida dos discípulos e preencher as lacunas deixadas pelo texto bíblico.
Muitas críticas de dirigem a essa “licença poética” que humaniza os discípulos, dando-lhes um contorno histórico assim como com Jesus, sempre alegre e com senso de humor. Esses dois aspectos permitem não só a identificação com os personagens mas um sentimento de pertencimento. Pois o drama deles é, de certa forma o nosso
Quando olhamos para as personagens, percebemos vivências que se assemelham às nossas. O sofrimento delas, de cunho arquetípico, ressoa profundamente em nós. Alguns exemplos:

Maria Madalena, a primeira a ser chamada por Jesus, perdeu o pai, foi abusada sexualmente por um soldado romano, levando a um estado de fragilidade emocional extrema que a leva às “possessões”, à depressão, ao desespero e desejo de morte.
Simão (Pedro) – apesar de possuir uma liderança nata, ele era ansioso, impulsivo o que leva a fazer escolhas erradas.
Nicodemos – um fariseu respeitado. Ele vivia um conflito interno: tudo que aprendera como certo e racional agora era colocado em dúvida pelos milagres de Jesus que testemunhou. Nicodemos enfrentava uma crise de fé e sentia medo de perder o status que possuía.
Tiaguinho (Tiago menor) – apesar de possuir uma deficiência física, isso não o impedia de curar as pessoas.
Simão, o zelote – fez parte de uma facção extremista e violenta, buscando justiça pelas vias mais sombrias.
Mateus – era cobrador de impostos (publicano), apesar de ter riquezas era mal visto ou mesmo odiado pelos seu povo. Na série ele é retratado no espectro autista, muito inteligência, detalhista (sempre registrando os feitos de Jesus), mas com profunda dificuldade social. O criador da série, Dallas Jenkins, que possui uma filha autista, optou por retratar Mateus como autista por entender que o evangelho de Mateus é o mais detalhista dos quatro sinóticos, o que poderia ser um indício de TEA.
Tamar – uma personagem que não aparece na narrativa bíblica, é uma mulher etíope, não judia, que segue Jesus e o auxilia com o discipula.
Esses são apenas alguns exemplos dos dramas pessoais vivenciados pelas personagens da série, que conta com muitos outros personagens igualmente complexos e comoventes. Tal profundidade já seria suficiente para gerar identificação, mas é fundamental ressaltar a presença de Jesus, que acolhe, compartilha momentos de alegria, sofre e caminha ao lado dessas pessoas tão imperfeitas e sofridas. Não se trata de um “Jesus institucional”, limitado por dogmas ou preconceitos. O Jesus apresentado na série traz um sentido próprio de Emanuel, Deus conosco.
Na série, é possível compreender o sentido de pertencimento onde cada um com sua particularidade e imperfeição, é escolhido. Cada um é visto e respeitado com sua história, origem e sofrimento e, ainda assim, possuem um lugar no reino de Deus. Essa percepção do chamado, da escolha produz um abrigo interior e fortalece o sentimento de pertencer a algo maior que nós mesmos. Ao longo de toda série, ecoam as palavras de Isaías 43.1 que aparecem logo primeiro episódio “Não tema, pois eu o resgatei; eu o chamei pelo nome; você é meu.”
Assim, The Chosen é uma série que aborda pertencimento, fé e transformação.
Vamos aguardar a 6ª temporada.
Psicólogo clínico junguiano graduado pela Ufes. Especialista em Psicologia Clínica e da Família pela Faculdade Saberes; especialista em Teoria e Prática Junguiana pela Universidade Veiga de Almeida e especialista em Acupuntura Clássica Chinesa IBEPA/FAISP; com formação em Hipnose Ericksoniana pelo Instituto Milton Erickson do Espírito Santo. É professor e diretor do CEPAES. Atua desde 2004 em consultório particular. Coordenador do Blog do Jung no Espirito Santo (www.psicologiaanalitica.com)
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